César Lacerda e Romulo Fróes_ O
Meu Nome é Qualquer Um
“Fui de
quem chamou meu nome. O meu nome é qualquer um!”
A vida é
formada pelos encontros. A cada um deles, o mundo e as pessoas vão aprofundando
as suas experiências e modificando as suas percepções, formando assim, novas
configurações de reflexão sobre a existência. Com César Lacerda e Romulo Fróes
não foi diferente. Os dois artistas se conheceram e em apenas dois meses
compuseram vinte canções. Treze delas formam o disco inédito, O Meu Nome é Qualquer Um, com
lançamento em outubro de 2016 pelos selos YB music e Circus. Todo o processo de feitura deste
trabalho, composição, ensaios, gravação, tudo se deu com a urgência de apenas
seis meses!
No disco,
uma espécie de anti-herói contemporâneo percorre o Brasil de agora tentando
compreender a complexa miríade de assuntos à sua volta. O problema racial, o
terceiro sexo, as redes sociais, o assassinato de crianças negras na favela, o
amor, a morte. A ambiciosa cartografia reflete o protagonismo inquieto destes
dois importantes artistas da cena contemporânea de música popular brasileira.
Romulo Fróes é cantor e compositor paulistano. Tem em
sua discografia sete discos solos lançados e três discos com o Passo Torto,
grupo do qual faz parte junto a Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral, sendo o mais recente, uma
parceria entre o grupo e a cantora Ná Ozzetti. Atuante na cena musical
contemporânea, é um de seus principais interlocutores, tendo publicado textos
críticos sobre a música brasileira em diversos veículos da imprensa, realizado
documentários, trilhas sonoras, curadorias musicais, além de produzir e dirigir
discos e shows de outros artistas como Elza Soares, Rodrigo Campos e Juliana
Pedigão. Além das já citadas Elza Soares, Ná Ozzetti e Juliana Perdigão, suas
composições já foram gravadas por diversas cantoras como Juçara Marçal, Nina
Becker, Mariana Aydar, Jussara Silveira, Juliana Perdigão, entre outras.
Já o
cantor, músico multi-instrumentista e compositor César Lacerda é mineiro de Diamantina, passou a sua adolescência em
Belo Horizonte, viveu por oito anos no Rio de Janeiro, e atualmente, vive em
São Paulo. Lançou em 2013 o seu primeiro disco, "Porquê da Voz",
que conta com as participações de artistas como Lenine e do quarteto
de cordas europeu, Taron. Em 2015, lançou o seu segundo álbum, “Paralelos & Infinitos”, onde
executa quase todos os instrumentos. O músico já se apresentou em sete países
em prestigiados teatros e casas de show, e têm parcerias musicais com artistas
como Paulinho Moska, Matheus
Nachtergaele, Paulo Miklos, Marcelo Jeneci, Romulo Fróes, Eucanaã Ferraz e
Roberta Campos. Suas canções já foram gravadas por artistas como Filipe Catto,
Aíla, Graveola e o Lixo Polifônico, Duda Brack, Julia Bosco, entre outros.
O encontro
desses dois artistas é motivo de celebração, e confirma a riqueza das suas
trajetórias. A importância dos seus trabalhos revela inquietude estética e uma
busca incessante pela reformulação da ideia de canção. O Meu Nome é Qualquer Um, é espelho que reflete com beleza e
afrontamento não apenas o Brasil contemporâneo, mas também a relevância de César Lacerda e Romulo Fróes para a música feita hoje no país.
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O Meu Nome é Qualquer Um por Rodrigo Campos
O homem contemporâneo chora o esvaziamento do masculino.
Poderia celebrar, por outro lado, a chegada inexorável da dúvida. Essa dúvida
poderá vir a ser a afirmação deste novo homem. Mas ainda é cedo. Por enquanto,
ele vaga, espera, observa, dá um passo tímido e volta dois atrás. Qual será seu
novo plano? Se a mulher avança com o feminino pra uma totalidade, ampliando,
inclusive, a abrangência de gêneros dentro do feminino, o homem se fragmenta e
se desconecta do ideal masculino. E nesse processo de fragmentação, mesmo que
hesitante, ele imagina: “chamo pelo nome
/ imagino um homem / ou caminho devagar?”, e se pergunta: “como vai o homem junto de outro homem /
como devo lhe chamar?”. Os versos citados são da canção “O Homem Que Sumiu”, espécie de epitáfio do homem enquanto ser exclusivamente
masculino. Não dá pra dizer que não dói ver morrer assim o masculino. Basta
lembrar nossos pais, avós, nossa herança familiar, cultural. Basta lembrar o
verso de Luiz Melodia cruzando a linha do masculino no sentido oposto: “machismo elegância paterna”. Mas esse
homem sumindo, depois desse processo de fragmentação, talvez possa retornar
inteiro, exercendo todas as facetas de um ser humano complexo. Esse é o
vislumbre de O Meu Nome é Qualquer Um.